Televisão penetrou na vida média americana com velocidade espantosa. No final da Segunda Guerra Mundial, apenas meio por cento dos lares americanos tinha um aparelho de televisão; em 1962, esse número tinha aumentado para 90 por cento. Mas não importava quantas televisões comprávamos e estações de transmissão construíamos, o alcance dos sinais de transmissão em longas distâncias ainda era limitado por um problema físico básico: a curvatura da terra.
Daquela história
“O sinal de TV, que é um sinal de onda de rádio, viaja em linhas retas”, diz Martin Collins, curador do Museu do Ar e Espaço. “Então, se você está tendo que superar a curvatura da terra, os sinais só podem ir tão longe antes de precisarem ser captados por uma antena e repetidos”
Tudo isso mudou com o lançamento de um foguete no Cabo Canaveral em 10 de julho de 1962, exatamente 50 anos atrás, hoje. O foguete transportava o satélite de comunicações Telstar, a primeira nave espacial que serviu para retransmitir ativamente sinais de comunicação entre pontos distantes na Terra. “Em essência, isso significava colocar uma estação de retransmissão no alto da órbita, em vez de em terra”, diz Collins. “De uma perspectiva técnica, o satélite foi uma solução elegante para um problema básico da física”
A espaçonave permitiu que estações de transmissão tanto nos EUA como na Europa enviassem sinais para o espaço, os fizessem ricochetear do satélite e os tivessem recebidos através do Atlântico quase instantaneamente, revolucionando as comunicações de massa entre os continentes. O dispositivo também podia ser usado para chamadas telefônicas e até mesmo faxes. Para celebrar o feito, as autoridades conduziram uma demonstração internacional das capacidades da Telstar. “Houve uma troca de programas – primeiro dos Estados Unidos para a Europa e depois da Europa para os EUA”, diz Collins. A transmissão americana incluiu uma conferência de imprensa com o presidente Kennedy, um jogo de beisebol e imagens de lugares famosos como a Estátua da Liberdade e o Monte Rushmore.
Telstar, um satélite experimental, retransmitiu com sucesso sinais por pouco menos de um ano antes de vários problemas técnicos o forçarem a ficar offline. Mas desempenhou um papel crucial no desenvolvimento dos satélites subsequentes e ajudou-nos a compreender como poderíamos conduzir as comunicações através do espaço. O satélite empregou tecnologia de estado sólido, forneceu informações sobre como a eletrônica funcionava na radiação do Cinturão Van Allen e ajudou no desenvolvimento de técnicas para estabelecer contato entre antenas terrestres e naves espaciais.
O lançamento também foi tremendamente valioso para uma psique americana agitada pelo domínio soviético inicial do espaço durante a Guerra Fria. “Telstar foi um evento que sinalizou o feito dos EUA em uma área que os próprios soviéticos não tinham feito”, diz Collins. “A percepção era que os soviéticos estavam à frente no vôo espacial humano e estavam criando novas conquistas mais rapidamente que os EUA, mas Telstar representava um aspecto do vôo espacial em que os EUA eram claramente os primeiros”. O fato de o satélite ter sido desenvolvido principalmente pela AT&T, uma empresa privada, serviu ainda para demonstrar o poder da indústria privada, em comparação com o modelo estatal da R.E.U..
Para celebrar o aniversário de ouro da conquista, o Museu do Ar e do Espaço – que abriga uma cópia de reserva do Telstar, produzida junto com os lançamentos do satélite propriamente dito – está sediando um dia de eventos especiais na quinta-feira, 12 de julho. Será estabelecida uma ligação satélite ao vivo com o Museu das Telecomunicações em Pleumeur-Bodou, França, que foi o local da antena terrestre original francesa. A transmissão será seguida por um simpósio especial de historiadores espaciais e especialistas da indústria, incluindo Martin Collins, e contará com filmagens originais da transmissão de 1962. O evento é aberto ao público, e estará disponível como webcast ao vivo para aqueles fora de Washington.
Além dos eventos especiais do museu, há ainda outra maneira de celebrar o legado do Telstar: olhando para os céus. Embora o satélite tenha sido desactivado pela radiação em 1963, tem permanecido em órbita desde então, circulando confiantemente na Terra a cada 2,5 horas. Os satélites modernos ultrapassaram as capacidades do Telstar em várias ordens de magnitude, mas a relíquia continua a viver como um lembrete físico da nossa primeira incursão bem sucedida nas comunicações espaciais.